top of page

CADÁVERES

  • Foto do escritor: davisdiniz
    davisdiniz
  • 25 de jun. de 2020
  • 15 min de leitura

Atualizado: 18 de jul. de 2020

Néstor Perlongher

para Flores

Sob as matas

Nos capinzais

Sobre as pontes

Nos canais

Há Cadáveres

Na trilha de um trem que nunca se detém

No rastro de um barco que naufraga

Numa ondulação, que se desvanece

Nas baías nos ancoradouros nos píeres nos calçadões

Há Cadáveres

Nas redes dos pescadores

No tropeço dos caranguejos

No cabelo que repuxa

Com uma buchinha frouxa

Há Cadáveres

Na precisão desta ausência

No que arrasa essa palavra

Em sua divina presença

Capitão, no seu arraial

Há Cadáveres

Nas mangas suadas da mulher do CPF jogado fora

pela janela do barquinho com um bebezinho nas costas

No barqueiro que se vê obrigado a fazer pipoca

No pipoqueiro que estoura

Na broa, na bronha, aí

Há Cadáveres

Precisamente aí, e nessa rixa

Que nos racha, e

nesse soslaio que convém que não se diga, e

no desdém de quem não diz que não pensa, por acaso

na cara de quem diz que não sabe…

Há Cadáveres

Entretanto, na lingueta desse sapato que se amarra dissimuladamente, aos óculos, na

correia dessa fivela que se aperta, sem querer, no teto, pés

em cima desse moedeiro que se esvazia, como um abutre, e, no

entanto, nessa c… o quê, como se escrevia? c… de quê?, mas, Com-

Tudo

Sobretudo

Há Cadáveres

No traje da que folga, febrilmente, no

balanço da que se enlagarta nessa trepadeira, inerme no

esparramar da que não se acalenta, apenas, a não ser com um

casaquinho, e na porcelana de casaquinhos, e figurinos

anteriores, modas

passadas como ostras mortas das que

Há Cadáveres

Você os vê, você pode vê-los chamativos boiando no pântano:

na barra das calças que se emporcalham, símilmente;

no laço da cauda do vestido de seda da noiva, que não se casa

porque seu noivo veio a

…………………………!

Há Cadáveres

Nesse golpe baixo, na baixeza

dessa bochecha, no disfarce

ambíguo desse abutre, no z dessas

azaleias, acessas, na escuridão

Há Cadáveres

Está cheio deles: nos frasquinhos de leite de porco com que as

mulheres da roça

empenham seus fiados, nos

desfiladeiros das portuárias e marítimas que vão até o amanhecer, como a escondidas, com a calcinha cheia; na

umidade das bolsinhas, bolas, que se apaixonam ao movimento

dos que

Há Cadáveres

Parece bem gasto: na peleja

desses cabras, na pelagem dessa

tropa montada, nos canaviais (palha brava), na moringa

desse órfão pátrio, o cheiro de mato desse juiz

Há Cadáveres

Ai, na queixa dessa corista que vendia “bandeiras nacionais”

Ui, no chute dessa harpista que apanhava pequenos cães invertidos,

Uau, no aspiro dessa carreira quando se espicha a cascata, com

uma garrafa de whisky “Russo” cheio de vidro nos suspensórios, nesses,

tão magros,

Há Cadáveres

Na finura da costureira que ataria fitas ond’um buraco houvesse

Na delicadeza das mãos que a manicure que eletriza

as unhas salitrosas, nas mesmas

cutículas que ela abre, como num toilette; na penteadeira, tão

…indeciso…, que

crava caprichosamente os bispos, nas cadeiras da Rainha e

nos caderninhos da princesa, que no som de uma realeza

que se derruba, oui

Há Cadáveres

Yes, na caixinha de cânfora do peitio dessa

¡bonita professora!

Ecco, nos tições com que essa ¡bonita professora! fuça na brasa

desse incensário;

Da, na garganta dessa forca, na flacidez desse hematoma

atravessado por uma argola, anágua, e

Há Cadáveres

Nisso que empurra

o que asfixia,

Nisso que não se sacia

do que se empanturra

Nisso que amputa

o que empala,

Nisso que ¡puta!

Há Cadáveres

Já não podemos suportar: o cabo

da pá que prega na terra seu rosário de musgos,

o rosário

da cruz que empala no muro da terra de um só prego,

a corrente

que sujeita aos juncos o chiado – tin, tin… – do choc-

alho, no gargarejo que se escarra…

Há Cadáveres

No refluxo do esputo, além do mais, no catarreio; na também

glacial amídala; no florete que não se suga com fruição

porque guarda uma borda de caca; no escarro

que se estampa sobre um zé pistola,

na saliva por onde penetra um elefante, nessas graças da

formiga

Há Cadáveres

Na pepeka das novinhas

No pingulim de um gladiador do sul, sonho

No florim de um perdulário que se esbalda, numas

brechas, no sudário do cliente

que paga um preço desmesuradamente alto pela trepada,

na trepada

Há Cadáveres

No deserto dos ambulatórios

Na poeira dos divãs “inconscientes”

No incessante desse trâmite, desse “processo” nos hospitais

onde o morto circula, nos corredores

onde as enfermeiras fazem SHHH! com uma agulha nos ovários,

nos buracos

das recepções de vidro de orquestra onde os cirurgiões

se travestem de “homens alinhados”,

oz gambáz de resíduoz, onde mais tatuar, ou talhar (ou provar)

um paladar, em tornos

Há Cadáveres

Nos cestinhos da mamãe que alternativamente se enchem ou se esvaziam

de esmeraldas, tubinhos, nas dobras dessa

prega que cinge – forte demais – esses sutiãs, no azul enluarado do cabe-

lo, gloriamar, na chupada desse peito que se espreme, no

oratório, contra um bandolim, salamim, cheio de lisos canos…

Há Cadáveres

Nessas circunstâncias, quando a mãe

lava a louça, o filho os pés, o pai o cinto, a

irmanzinha a mancha de pus que, debaixo do subaco, é

“crescente”, ou

Há Cadáveres

Já não podemos enumerar: no pequeno “rútilo” de cinza

que meu cavalo deixa ao virar um peido pelos campos (campos, hum…), ou

por haras, eia, fará você de conta que não

Há Cadáveres

Quando o cavalo pisa

os empapados pântanos,

empenado se afunda

nos pastos;

quando a passarinha, quero-quero,

voa em círculos, como um galo, ou quando o lombo

como uma serpente “carne de cobra” se

dissipa,

os observadores chegam todos à seguinte

conclusão:

Há Cadáveres

Quando os estrangeiros, como crápulas, (“perderam a

santa, e tateiam dois corpos”), cúmplices,

ajoelhados debaixo da estátua de uma morta,

e ela é desprezada!

Há Cadáveres

Quando o cansaço de uma pistola, a flacidez de um ânus,

já nada podem, o peso de um caralho, o mijo de um

“pau d’água”, a estirpe real de uma azaleia que floresceu

rubra, como um ceibo, ou um sérvio, quando um pajem

a deflora, calmamente, a dentadas, quando vai metendo

folha contra folha, e, amontoadas, escorrem, e

Há Cadáveres

Quando a crava levemente, e entusiasmado pelo su-

cesso de seu picão, tanto mais

prega essa cravo, quando “mete”

no pistilo dessa carniça o peristilo de uma carroça

choca, quando a vira de volta

para que arrase todos… as sardas, ou

Lugares

Há Cadáveres

Verrugas, hemorroidas (de teflon), macários mormos: quando sem…

acrivala, acrisola, miríades de anjos de peixe-espada, murtas

acnéicas, ou só adolescentes, doloridas no

dedo por um pontapé nas varizes, teta qual

torre, percal arrepiado, achatado clitó…

Há Cadáveres

No país onde se arreia o moleiro

No estado onde o açougueiro vende seu lombo, bem contando,

e onde todas as Ocupações têm nome…

Nas regiões onde uma pirua passeia com sua sainha de seda,

eles a farejam de longe, desde sempre

Há Cadáveres

No interior onde não se diz a verdade

Nos locais onde não se conta uma mentira

– Isto não sai daqui –

Nas mijadas de bêbados onde aparece uma pústula sanguínea na

braguilha de quem urina – isto não vai ficar aqui –, contra os

azulejos, no vão, da 14 ou da 15, Paulista com

Augusta

Há Cadáveres

E se converte imediatamente em Iracema

os caciques que lhe fazem um enema,

abrem seu c… para dela extrair o menino,

o marido fica com a filha,

mas ela consegue conservar um escapulário com uma foto borrada

de um camarim onde…

Há Cadáveres

Onde ele a traiu, onde quis convencê-la de que ela

era uma ovelha de rabo preso, onde a cadela

cagou nele, onde a porca

deixou cair pelo canto da boca adocicada uns pelinhos

almiscarados, seduzindo ele,

Há Cadáveres

Onde ela ejaculou, a calcinha toda frouxa, posta por cima

da calça afivelada como num

cálice borbulhante – os retalhos

de brinco flutuavam na “Solução Umectante” (método água por

água),

ela teria que contar

Há Cadáveres

O feto, criando-se num córrego cheio de ratos,

A avó, rapando-se numa bacia de água-sanitária

A sogra, puxando algumas lágrimas de Nossa Senhora,

A tia, enlouquecida por uns pentes tortos

Há Cadáveres

A família, fungando nas dobras dos lençóis

A amiga, disfarçando sem parar as marcas de um “chupão”

O mané, chupando um gambé a troco de uns papeizinhos imprestáveis

Um peguete, quando tentava meter no cano de descarga de

uma Kombi,

Há Cadáveres

A descabelada, cujo coque se desfez

por culpa de tanto “raio de sol”, tanto “talquinho”;

Uma enganada, cujo coração preferiu não saber;

A despossuída, que cravou os dentes ao tentar fugir de um taxi;

A que desejou, debaixo de uma mantinha pegajosa, acalmar-se

para não ver o que via:

Há Cadáveres

A matrona casada, que fez um grande favor ao rapaz passando-lhe um

bom ponto;

a tecedora que não se cansa, que se cansou buscando um ponto bem discreto que não mostrara nada

– e que ao mesmo tempo desse a entender o que acontecesse –;

a dona da fábrica, que viu as veias de suas operárias tramarem tatilmente nos teares – e dava essa textura compassada…

lilás…

A fiadeira, que procurou enrolar-se nos fios, nas agulhas

Há Cadáveres

A que faz anos que não vê uma pica

A que a imagina, aveludada, numa cuna (ou cunha)

Eva, que fugiu com seu marido, já impotente, para um sítio

onde eram

vigiados, com um naso, ou com um martelo, nos joelhos, apertaram

seus mamilos, com um alicate (Eva era tão bonita como uma

professora…)

Há Cadáveres

Era questão de ver contra toda evidência

Era questão de calar contra todo silêncio

Era questão de manifestar-se contra todo ato

Contra toda lambida era questão de chupar

Há Cadáveres

Era: “Não diga que ele foi visto comigo porque é capaz que se deem conta”

Ou: “Não vai contar que o vimos porque podem criar caso”

E por acaso: “Você não deve saber porque te amputam uma teta”

Ainda: “Hoje assaltaram uma vaca”

“Quando você ver algo faz de conta que não viu nada

… e pronto”

Há Cadáveres

Como uma muleta que se acoplada ao pescoço

Como uma frase feita que aperta os coletes, as faixas

Como um titilar esquecido, eram como resplendores de miradouro, como

uma gravata que espreita, abotoaduras de prata, assim

Há Cadáveres

No campo

No campo

Na casa

Na caça

Há Cadáveres

Na decaída desta escrita

No borrar dessas inscrições

Na dispersão destas lendas

Nas conversas de lésbicas que comparam a marca da liga,

Nessas luvas

Há Cadáveres

Dizer “em” não é uma maravilha?

Uma pretensão de centramento?

Um centramento do cêntrico, cujo forward

morre ao amanhecer, e decomposto do

Túnel

Há Cadáveres

Uma área onde haja fossas principais?

Um papagaio onde haja arestas engaioladas?

Um pavilhão de tetas punheteiras?

Uma bala, alucinada, no cubismo

de superfície frívola…?

Há Cadáveres

Não queria comentar, Fernando, mas naquela vez que você me mandou

ao escritório, fazer uns trabalhos, quando eu

cruzava a rua, uma velhinha caiu, por uma viela, e as

carruagens que passavam, com essas cortinas tão antiquadas (já feitas, te disse, de outra calça branca), você acredita que iam

parar, Fernando? Imagina…

Há Cadáveres

Estamos fartas desta reiteração, e cheias

Desta reiteração estamos.

As sinhazinhas italianas

perdem a tampinha do Luis XV na República!

As “modelos” – do partido polaco –

não encontram os botões (o decote fechava por trás) no Capão!

Caboclas baratas e invejosas – cuja cantiga é implacável – em Osasco!

Monas muy guapas nos bloquinhos do Rio Pequeno!

Butantã!

Há Cadáveres

Ui, não diga nada para dona Marta, ela vai entregar para o neto

Que é soldado!

E se disso se inteira Regina, que tem um noivo patriota!

E a que cantarola, vê se se controla!

A que solfeje, que se apedreje!

Nem a vitroleira, que é guerreira!

Nem ao puxa-saco, tanto faz!

Nem a que se faz de avoada!

NEM

Há Cadáveres

Caixões alegóricos!

Porões metafóricos!

Valas metonímicas!

Ex–plícito!

Há Cadáveres

Exercícios

Campanhas

Consórcios

Condomínios

Contractus

Há Cadáveres

Ermos ou Longos

Skafs ou Covas

Rouges ou Sombras

Tábuas ou Dórias

Há Cadáveres

– Tudo isto não vem do nada

– Por quê não?

– Não me diga que você vai contá-los?

– Você não acha que deveríamos?

– Quando você se formou?

– Você militava?

– Há Cadáveres?

Quando Você Saiu ao Léu

À Noite com a Brisinha

Foi Aquele Escarcéu

Você Sem uma Brusinha

E

Há Cadáveres

Dá para entender?

Ficou claro?

Não era um pouco demais para a época?

As unhas azuladas?

Há Cadáveres

Sou aquele que amanhã não é mais…

Ela é a que…

Víamos a harpa

Na sala forrada…

Melhor então já ir embora

Ou

Há Cadáveres

…………………………………………

…………………………………………

…………………………………………

…………………………………………

Há alguém aí? – pergunta a mulher do Paraguai.

Resposta: Não há cadáveres.





________

tradução de davisdiniz


Néstor Perlongher (Avellaneda, Argentina, 1949 – São Paulo, Brasil, 1992) foi poeta, ensaísta, sociólogo, antropólogo e um referente da “Frente de Liberación Homosexual” dos anos 1970. Esteve detido durante a última ditatura cívico-militar argentina e se exilou no Brasil a partir de 1981, às vésperas de nossa reabertura democrática. Estudou Antropologia Social na Universidade Estadual de Campinas, realizando uma pesquisa que lhe rendeu o livro “O negócio do michê: prostituição viril em São Paulo”, resultado da sua dissertação de mestrado defendida em 1986 na UNICAMP. Tornou-se mais tarde professor da mesma instituição brasileira. Faleceu em 1992, vítima de HVI, e foi enterrado no cemitério da Vila Alpina (SP).

“Cadáveres”, poema elegíaco que denuncia o genocidio argentino (e latino-americano por extensão das ditaturas cívico-militares do período), procede de seu segundo livro de poesia, Alambres (1987).

Sobre esta tradução, há que se considerar a indomabilidade da escrita de Perlongher, ensaísta e militante da barroquização da literatura rio-platense por meio daquilo que em sua obra se chamou de “neobarroso”. Por isso, algumas transposições foram feitas a modo de trazer o poema do contexto platino para o Brasil atual. Traduzir poesia contemporânea (e experimental) é uma tarefa que debe ir além da tradução de uma forma, como costumava ser nos tempos já caídos do soneto; é traduzir uma coloquialidade do verso na página, ou seja, a criação de uma sintaxe. Procurei fazer isso sem descaracterizar arbitrariamente o texto de partida (espantosamente mais atual – e brasileiro - que nunca quando lido a partir destes tempos sombrios de pandemia em que a figura do genocida latino-americano resurge entre nós mais uma vez).

O texto original segue aqui:

CADÁVERES

a Flores

Bajo las matas

En los pajonales

Sobre los puentes

En los canales

Hay Cadáveres

En la trilla de un tren que nunca se detiene

En la estela de un barco que naufraga

En una olilla, que se desvanece

En los muelles los apeaderos los trampolines los malecones

Hay Cadáveres

En las redes de los pescadores

En el tropiezo de los cangrejales

En la del pelo que se toma

Con un prendedorcito descolgado

Hay Cadáveres

En lo preciso de esta ausencia

En lo que raya esa palabra

En su divina presencia

Comandante, en su raya

Hay Cadáveres

En las mangas acaloradas de la mujer del pasaporte que se arroja

por la ventana del barquillo con un bebito a cuestas

En el barquillero que se obliga a hacer garrapiñada

En el garrapiñiero que se empana

En la pana, en la paja, ahí

Hay Cadáveres

Precisamente ahí, y en esa richa

de la que deshilacha, y

en ese soslayo de la que no conviene que se diga, y

en el desdén de la que no se diga que no piensa, acaso

en la que no se dice que se sepa...

Hay Cadáveres

Empero, en la lingüita de ese zapato que se lía disimuladamente, al

espejuelo, en la

correíta de esa hebilla que se corre, sin querer, en el techo, patas

arriba de ese monedero que se deshincha, como un buhón, y, sin

embargo, en esa c... que, cómo se escribía? c. .. de qué?, mas, Con

Todo

Sobretodo

Hay Cadáveres

En el tepado de la que se despelmaza, febrilmente, en la

menea de la que se lagarta en esa yedra, inerme en el

despanzurrar de la que no se abriga, apenas, sino con un

saquito, y en potiche de saquitos, y figurines anteriores, modas

pasadas como mejas muertas de las que

Hay Cadáveres

Se ven, se los despanza divisantes flotando en el pantano:

en la colilla de los pantalones que se enchastran, símilmente;

en el ribete de la cola del tapado de seda de la novia, que no se casa

porque su novio ha

….........................!

Hay Cadáveres

En ese golpe bajo, en la bajez

de esa mofleta, en el disfraz

ambiguo de ese buitre, la zeta de

esas azaleas, encendidas, en esa obscuridad

Hay Cadáveres

Está lleno: en los frasquitos de leche de chancho con que las

campesinas

agasajan sus fiolos, en los

fiordos de las portuarias y marítimas que se dejan amanecer, como a

escondidas, con la bombacha llena; en la

humedad de esas bolsitas, bolas, que se apisonan al movimiento de

los de

Hay Cadáveres

Parece remanido: en la manea

de esos gauchos, en el pelaje de

esa tropa alzada, en los cañaverales (paja brava), en el botijo

de ese guacho, el olor a matorra de ese juiz

Hay Cadáveres

Ay, en el quejido de esa corista que vendía "estrellas federales"

Uy, en el pateo de esa arpista que cogía pequeños perros invertidos,

Uau, en el peer de esa carrera cuando rumbea la cascada, con

una botella de whisky "Russo" llena de vidrio en los breteles, en ésos,

tan delgados,

Hay Cadáveres

En la finura de la modistilla que atara cintas do un buraco hubiere

En la delicadeza de las manos que la manicura que electriza

las uñas salitrosas, en las mismas

cutículas que ella abre, como en una toilette; en el tocador, tan

...indeciso..., que

clava preciosamente los alfiles, en las caderas de la Reina y

en los cuadernillos de la princesa, que en el sonido de una realeza

que se derrumba, oui

Hay Cadáveres

Yes, en el estuche de alcanfor del precho de esa

¡bonita profesora!

Ecco, en los tizones con que esa ¡bonita profesora! traza el rescoldo

de ese incienso;

Da, en la garganta de esa ajorca, o en lo mollejo de ese moretón

atravesado por un aro, enagua, en

Ya

Hay Cadáveres

En eso que empuja

lo que se atraganta,

En eso que traga

lo que emputarra,

En eso que amputa

lo que empala,

En eso que ¡puta!

Hay Cadáveres

Ya no se puede sostener: el mango

de la pala que clava en la tierra su rosario de musgos,

el rosario

de la cruz que empala en el muro la tierra de una clava,

la corriente

que sujeta a los juncos el pichido – tin, tin... – del son-

ajero, en el gargajo que se esputa...

Hay Cadáveres

En la mucosidad que se mamosa, además, en la gárgara; en la también

glacial amígdala; en el florete que no se succiona con fruición

porque guarda una orla de caca; en el escupitajo

que se estampa como sobre en un pijo,

en la saliva por donde penetra un elefante, en esos chistes de

la hormiga,

Hay Cadáveres

En la conchita de las pendejas

En el pitín de un gladiador sureño, sueño

En el florín de un perdulario que se emparrala, en unas

brechas, en el sudario del cliente

que paga un precio desmesuradamente alto por el polvo,

en el polvo

Hay Cadáveres

En el desierto de los consultorios

En la polvareda de los divanes "inconcientes"

En lo incesante de ese trámite, de ese "proceso" en hospitales

donde el muerto circula, en los pasillos

donde las enfermeras hacen SHHH! con una aguja en los ovarios,

en los huecos

de los escaparates de cristal de orquesta donde los cirujanos

se travisten de ''hombre drapeado",

laz zarigueyaz de dezhechoz, donde tatúase, o tajéase (o paladea)

un paladar, en tornos

Hay Cadáveres

En las canastas de mamá que alternativamente se llenan o vacían de

esmeraldas, canutos, en las alforzas de ese

bies que ciñe – algo demás – esos corpiños, en el azul Iunado del cabe-

llo, gloriamar, en el chupazo de esa teta que se exprime, en el

reclinatorio, contra una mandolina, salamí, pleta de tersos caños...

Hay Cadáveres

En esas circunstancias, cuando la madre se

lava los platos, el hijo los pies, el padre el cinto, la

hermanita la mancha de pus, que, bajo el sobaco, que

va “creciente”, o

Hay Cadáveres

Ya no se puede enumerar: en la pequeña “riela” de ceniza

que deja mi caballo al fumar por los campos (campos, hum…),o por

los haras, eh, harás de cuenta de que no

Hay Cadáveres

Cuando el caballo pisa

los embonchados pólderes,

empenachado se hunde

en los forrajes;

cuando la golondrina, tera tera,

vola en circuitos, como un gallo, o cuando la bondiola

como una sierpe “leche de cobra” se

disipa,

los miradores llegan todos a la siguiente

conclusión:

Hay Cadáveres

Cuando los extranjeros, como crápulas, ("se les ha volado la

papisa, y la manotean a dos cuerpos"), cómplices,

arrodíllanse (de) bajo la estatua de una muerta,

y ella es devaluada!

Hay Cadáveres

Cuando el cansancio de una pistola, la flaccidez de un ano,

ya no pueden, el peso de un carajo, el pis de un

''palo borracho", la estirpe real de una azalea que ha florecido

roja, como un seibo, o un servio, cuando un paje

la troncha, calmamente, a dentelladas, cuando la va embutiendo

contra una parecita, y a horcajadas, chorrea, y

Hay Cadáveres

Cuando la entierra levemente, y entusiasmado por el su-

ceso de su pica, más

atornilla esa clava, cuando "mecha"

en el pistilo de esa carroña el peristilo de una carroza

chueca, cuando la va dándola vuelta

para que rase todos.. . los lunares, o

Sitios,

Hay Cadáveres

Verrufas, alforranas (de teflón), macarios muermos: cuando sin...

acribilla, acrisola, ángeles miriados' de peces espadas, mirtas

acneicas, o sólo adolescentes, doloridas del

dedo de un puntapié en las várices, torreja

de ubre, percal crispado, romo clít ...

Hay Cadáveres

En el país donde se yuga el molinero

En el estado donde el carnicero vende sus lomos, al contado,

y donde todas las Ocupaciones tienen nombre….

En las regiones donde una piruja voltèa su zorrito de banlon,

la huelen desde lejos, desde antaño

Hay Cadáveres

En la provincia donde no se dice la verdad

En los locales donde no se cuenta una mentira

–Esto no sale de acá–

En los meaderos de borrachos donde aparece una pústula roja en

la bragueta del que orina-esto no va a parar aquí -, contra los

azulejos, en el vano, de la 14 o de la 15, Corrientes y

Esmeraldas,

Hay Cadáveres

Y se convierte inmediatamente en La Cautiva,

los caciques le hacen un enema,

le abren el c... para sacarle el chico,

el marido se queda con la nena,

pero ella consigue conservar un escapulario con una foto borroneada

de un camarín donde...

Hay Cadáveres

Donde él la traicionó, donde la quiso convencer que ella

era una oveja hecha rabona, donde la perra

lo cagó, donde la puerca

dejó caer por la puntilla de boquilla almibarada unos pelillos

almizclados, lo sedujo,

Hay Cadáveres

Donde ella eyaculó, la bombachita toda blanda, como sobre

un bombachón de muñequera como en

un cáliz borboteante - los retazos

de argolla flotaban en la "Solución Humectante" (método agua por

agua),

ella se lo tenía que contar

Hay Cadáveres

El feto, criándose en un arroyuelo ratonil,

La abuela, afeitándose en un bols de lavandina,

La suegra, jalándose unas pepitas de sarmiento,

La tía, volviéndose loca por unos peines encurvados

Hay Cadáveres

La familia, hurgándolo en los repliegues de las sábanas

La amiga, cosiendo sin parar el desgarrón de una "calada"

El gil, chupándose una yuta por unos papelitos desleídos

Un chongo, cuando intentaba introducirla por el caño de escape de

una Kombi,

Hay Cadáveres

La despeinada, cuyo rodete se ha raído

por culpa de tanto "rayito de sol", tanto "clarito";

La martinera, cuyo corazón prefirió no saberlo;

La desposeída, que se enganchó los dientes al intentar huir de un taxi;

La que deseó, detrás de una mantilla untuosa, desdentarse

para no ver lo que veía:

Hay Cadáveres

La matrona casada, que le hizo el favor a la muchacho pasándole un

buen punto;

la tejedora que no cánsase, que se cansó buscando el punto bien

discreto que no mostrara nada

– y al mismo tiempo diera a entender lo que pasase –;

la dueña de la fábrica, que vio las venas de sus obreras urdirse

táctilmente en los telares-y daba esa textura acompasada...

lila...

La lianera, que procuró enroscarse en los hilambres, las púas

Hay Cadáveres

La que hace años que no ve una pija

La que se la imagina, como aterciopelada, en una cuna (o cuña)

Beba, que se escapó con su marido, ya impotente, a una quinta

donde los

vigilaban, con un naso, o con un martillito, en las rodillas, le

tomaron los pezones, con una tenacilla (Beba era tan bonita como una

profesora…)

Hay Cadáveres

Era ver contra toda evidencia

Era callar contra todo silencio

Era manifestarse contra todo acto

Contra toda lambida era chupar

Hay Cadáveres

Era: "No le digas que lo viste conmigo porque capaz que se dan

cuenta"

O: "No le vayas a contar que lo vimos porque a ver si se lo toma a

pecho"

Acaso: "No te conviene que lo sepa porque te amputan una teta"

Aún: "Hoy asaltaron a una vaca"

"Cuando lo veas hacé de cuenta que no te diste cuenta de nada

...y listo"

Hay Cadáveres

Como una muletilla se le enchufaba en el pezcuello

Como una frase hecha le atornillaba los corsets, las fajas

Como un titilar olvidadizo, eran como resplandores de mangrullo, como

una corbata se avizora, pinche de plata, así

Hay Cadáveres

En el campo

En el campo

En la casa

En la caza

Ahí

Hay Cadáveres

En el decaer de esta escritura

En el borroneo de esas inscripciones

En el difuminar de estas leyendas

En las conversaciones de lesbianas que se muestran la marca de la liga,

En ese puño elástico,

Hay Cadáveres

Decir "en" no es una maravilla?

Una pretensión de centramiento?

Un centramiento de lo céntrico, cuyo forward

muere al amanecer, y descompuesto de

El Túnel

Hay Cadáveres

Un área donde principales fosas?

Un loro donde aristas enjauladas?

Un pabellón de lolas pajareras?

Una pepa, trincada, en el cubismo

de superficie frívola...?

Hay Cadáveres

Yo no te lo quería comentar, Fernando, pero esa vez que me mandaste

a la oficina, a hacer los trámites, cuando yo

curzaba la calle, una viejita se cayó, por una biela, y los

carruajes que pasaban, con esos crepés tan anticuados (ya preciso,

te dije, de otro pantalón blanco), vos creés que se iban a

dedetener, Fernando? Imaginá…

Hay Cadáveres

Estamos hartas de esta reiteración, y llenas

de esta reiteración estamos.

Las damiselas italianas

pierden la tapita del Luis XV en La Boca!

Las ''modelos" –del partido polaco–

no encuentran los botones (el escote cerraba por atrás) en La Matanza!

Cholas baratas y envidiosas – cuya catinga no compite – en Quilmes!

Monas muy guapas en los corsos de Avellaneda!

Barracas!

Hay Cadáveres

Ay, no le digas nada a doña Marta, ella le cuenta al nieto que es

colimba!

Y si se entera Misia Amalia, que tiene un novio federal!

Y la que paya, si callase!

La que bordona, arpona!

Ni a la vitrolera, que es botona!

Ni al lustrabotas, cachafaz!

Ni a la que hace el género "volante"!

NI

Hay Cadáveres

Féretros alegóricos!

Sótanos metafóricos!

Pocillos metonímicos!

Ex-plícito !

Hay Cadáveres

Ejercicios

Campañas

Consorcios

Condominios

Contractus

Hay Cadáveres

Yermos o Luengos

Pozzis o Westerleys

Rouges o Sombras

Tablas o Pliegues

Hay Cadáveres

– Todo esto no viene así nomás

– Por qué no?

– No me digas que los vas a contar

– No te parece?

– Cuándo te recibiste?

– Militaba?

– Hay Cadáveres?

Saliste Sola

Con el Fresquito de la Noche

Cuando te Sorprendieron los Relámpagos

No Llevaste un Saquito

Y

Hay Cadáveres

Se entiende?

Estaba claro?

No era un poco demás para la época?

Las uñas azuladas?

Hay Cadáveres

Yo soy aquél que ayer nomás...

Ella es la que…

Veíase el arpa...

En alfombrada sala...

Villegas o

Hay Cadáveres

..............................................

..............................................

..............................................

..............................................

No hay nadie?, pregunta la mujer del Paraguay.

Respuesta: No hay cadáveres.

Σχόλια


Drop Me a Line, Let Me Know What You Think

© 2023 by Train of Thoughts. Proudly created with Wix.com

bottom of page